O Maranhão dos Sir Ney’s

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Desde os primeiros mandatos dos componentes da “Oligarquia Sarney”1, sempre se apresentou o estado do Maranhão, para os próprios maranhenses quanto para o resto do Brasil, como um estado promissor, de potencialidades naturais e de uma elite forte. Basta ouvir o discurso do patriarca da família Sarney na posse como governador em 1966. Com discurso digno de ser proferido para lordes britânicos, Sarney colocava uma realidade idealizada que seria transformada por ele, até hoje uma percepção de Estado vinculado à vida pomposa de sua família, mas à custa dos maranhenses.

 

O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, seus babaçuais ondulantes e suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das corridas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio em que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso.

[…] Temos os nossos olhos nesta tarde do começo do governo voltado para aquela barragem de cimento que atravanca o [Rio] Parnaíba e que nos acena como uma mensagem de progresso que se chama Boa Esperança.

O Parnaíba domado para que o Piauí e o Maranhão possam transformar aquele ‘castelo no deserto’ – como os técnicos chamavam a Usina [Hidrelétrica] de Boa Esperança — em a zona mais próspera do norte-nordeste, onde será o maior campo para investimento.

Temos as nossas palmeiras aqui plantadas pela natureza e no Maranhão está a maior reserva do mundo de gordura vegetal, dos 150 mil km2 cobertos de babaçu e que cada vez mais iremos exportar, valorizar, industriar [sic] e mostrar ao Brasil que ele pode ser — em vez de problema — uma grande solução para todos nós (MARANHÃO 66)2.

 

O trecho acima é do discurso de posse do então governador José Sarney em 1966, filmado pelo documentarista Glauber Rocha que foi contratado por José Sarney/UDN para o registro da posse em praça pública – Praça Pedro II, em frente ao Palácio dos Leões, sede do governo – e que mais tarde se tornou o documentário “MARANHÃO 663.

Sarney já observava na mídia (TV) uma ferramenta de manipulação de massas, sua principal via para hipnotizar o povo, limitando-os à informação produzida por ele e seus principais defensores. Durante seu mandato como presidente da república assinou sete concessões, uma delas para sua própria família no Maranhão, recebendo da emissora apoiadora da ditadura (GLOBO) o direito de ser a repetidora no Estado.

Atualmente, a representante da Família Sarney, Roseana, e seus jornalistas vinculados à oligarquia em vários municípios do Estado, reproduzem a mesma visão que os Sarneys querem “pintar”, basta ver as propagandas institucionais durante os mandatos como governadora de Roseana Sarney (1995-2002/2009-2014), veiculadas massivamente nas emissoras da TV Mirante. Tratam como investimento do governo, pregando um Maranhão de progresso com slogans como: “Para fazer mais”, “Para fazer mais ainda”, “O Maranhão segue em frente”, “Novo Maranhão”, “De volta ao trabalho”, usando empreendimentos privados como se fossem investimentos Estatais (Suzano Papel e Celulose em Imperatriz, acerias em Açailândia; usina hidroelétrica em Estreito, Expansão do Porto de Itaqui em são Luís, Refinaria PREMIUM I em Bacabeira etc.).

No próprio discurso de posse Sarney retrata bem o Maranhão real, mas a realidade falada em seu discurso serviu apenas para se mostrar com um salvador aos maranhenses miseráveis, e que os Sarney e seus apoiadores – durante quatro décadas — ajudariam a manter:

 

[…] O Maranhão não quer a violência como instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são o da pessoa humana, com a impunidade dos assassínios garantida pelos delegados e a liberdade garantida apenas como uma oportunidade para abastardar os homens.

O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo e as mais altas taxas de mortalidade infantil, de tuberculose, de malária, de esquistossomose — como o exercício do cotidiano.

Como iremos abrir nossas estradas, como iremos formar nossos técnicos, como iremos construir nossos portos, como poderemos industrializar o Maranhão e criar novos empregos, como iremos mudar a face do Maranhão 100% pobre, quanto à habitação, vestiário [sic] e alimentação? (MARANHÃO 66).

 

O sarneísmo deixou um exemplo que custou caro ao povo maranhense, mais além do que eles faziam, também deixaram um modelo de discurso em que se prega a esperança e a redenção de todos os males através da escolha de um candidato que se apresente como salvador, aquele que fará tudo, enquanto o que é necessário é apenas o voto.

Abrir os olhos e conhecer a realidade socioeconômica do nosso estado e querer mudá-las são os primeiros passos a serem dados nessa longa jornada, os meios advêm da educação e do investimento em ciência e tecnologia, bem como de um povo que lute pela transformação que deseja para solucionar os problemas. Uma verdadeira revolução social deve ser construída pelos próprios maranhenses.

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[1] Entre os componentes mais conhecidos da oligarquia estavam: João Castelo (1979- 1982), Luiz Rocha (1983-1987), Epitácio Cafeteira (1987-1990), Edison Lobão (1991-1994), José Reinaldo (2002-2006), este último a mandato do clã Sarney que já se encontrava em decadência.

[2] Transcrição do áudio do documentário “MARANHÃO 66: posse do governador José Sarney” realizado por Ronaldo de Almeida Silva. Disponível em: http://ronalddealmeidasilva.blogspot.com/2014/07/jose-sarney-discurso-de-posse-no.html.

[3] Glauber Rocha registra nesse documentário o discurso de posse do governador eleito no Maranhão, José Sarney/UDN, em 1966. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=t0JJPFruhAA.

Sou apenas um trabalhador assalariado, casado com a companheira Irisnete Geleno, pai de quatro filhas(Ariany, Thamyres, Lailla e Rayara), morador da periferia (Boca da Mata-Imperatriz), militante partidário (PSTU) que assumiu algumas tarefas eleitorais como candidato (2006, 2008, 2010 e 2012) e que luta por uma sociedade COMUNISTA. Sempre fui e continuarei sendo a mesma pessoa de caráter que meus pais, minha escola, meus amigos ajudam a forjar. Um comunista escravo do modo de produção capitalista que não aceita a conciliação de classe defendida por muitos que se dizem de "esquerda", mas que na verdade são pequeno-burgueses que esperam sua chance no capitalismo.

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