Ouvir na sua própria casa que você é burro, e o tom da voz não eram daqueles mais brandos, pode até parecer um desaforo. Mas não, apesar de tentar responder nos níveis de decibéis, o conteúdo que justificaram os “burros” pra mim diziam que passei a mensagem da forma com que ele entendesse.
Toda essa situação se deu quando demonstrei a um daqueles operadores do direito, político tradicional, e com uma moral típica da moral burguesa que tentava me dizer que eu não podia ficar fora do processo eleitoral, que a Constituição Federal garante direitos iguais a todos. Claro que me coloquei contrários a todos os pontos: política tradicional, moral da burguesia, processo eleitoral e que há igualdade na dita democracia brasileira.
Foi ingenuidade minha achar que todos os indivíduos da burguesia estão preparados para ouvir – mesmo que não acreditem – alguém que tenham uma mínima consciência de classe e que saiba delimitar as fronteiras do direito burguês. Foi esse meu erro em dialogar com esse indivíduo que se dizia advogado e o maior entendedor da teoria contida no “O Leviatã” de Hobbes.
Mas o que fazia um burguês e político tradicional num bairro da periferia? Pois é… Isso não vale à pena relatar aqui. A meu ver a principal fonte de sua irritação foi o fato de recusar prontamente o convite a participar de uma proposta de “tomada de poder” – um passo inicial para um objetivo maior segundo o expert na tática de tomada de poder político – que se concretizaria graças a um processo eleitoral.
Ele se retirou aos gritos no meio da rua “mesmo assim quero você conosco”, e eu para fazer ouvir mais os vizinhos que estavam às portas do que ele mesmo: – lhe agradeço pelo convite, mas recusarei, recusarei quantas vezes o faça.
Esse indivíduo me deu uma oportunidade única, para demonstrar aos vizinhos e às minhas próprias filhas que ouviram tudo – mas quem não ouviria aqueles esbravejos? – de ambas as partes e tiveram a oportunidade de presenciar um exemplo de oposições de classe e como ela não si dá de forma fácil, seja no campo das ideias seja nas relações de produção entre classe trabalhadora e burguesia.
Com certeza essa não é uma experiência que pretendo ter todos os fins de semana. Sei que nesse ano situações constrangedoras como essas são mais recorrentes, pois até entre a classe trabalhadora há muitos alienados que acham que o seu candidato mudará sua realidade só porque ele está dizendo e porque tem chances eleitorais.
Discussão1 comentário
Recentemente o Neymar respondeu a um repórter sobre o que conquistou aos 24 anos.
Existem muitos indivíduos que acham que o fato de serem formados em direito, gabarita os mesmos entender mais do que os outros. Confesso que nunca vi tamanha ingenuidade.
São positivistas convictos. Salvo algumas raríssimas exceções (ver professor Alysson Mascaro), ainda aprendem na faculdade, com seus mestres que direito é física social e que a nossa constituição é a melhor de todas, na face da terra. Direito é o que é não o que deveria ser. Entretanto, se contradizem, pois buscam uma justiça que jamais alcançaram no capitalismo.