Os conceitos hoje estão relativizados, ou melhor, banalizados. O exemplo disso é que qualquer um afirma ser “burguês” pelo fato de concordar com a exploração do trabalho — comprar força de trabalho — de uma pessoa por outra graças ao seu “empreendedorismo” ou “superioridade” que o levou a conquistar a posse de um modo de produção (fábrica, empresa, etc.).
Veja que o argumento que caracteriza a classe burguesa está correto — explorar outros — mas o fato de concordar com essa relação nunca lhe tornará burguês. Sua concordância lhe torna no máximo alguém que tem pensamentos “pequeno-burgueses”, ou seja, aquele que almeja se tornar um, mas as condições materiais estão muito distantes disso.
Vamos focar no burguês autêntico, aquele que qualquer que seja sua história de vida, hoje é proprietário de um modo de produção, por conseguinte, contrata o trabalho de outros homens, expropria sobretrabalho (MAIS VALIA), através da produção de mercadoria ou de outras formas de trabalho que gere valor (CAPITAL). Portanto, pela capacidade de transformação da natureza, ou seja, a força de trabalho posta em movimento.
Mas o debate aqui não é definir o perfil de quem é ou não burguês, pois Marx no livro “O Capital” (1867) ao fazer a crítica do capitalismo deixou claro que são as condições materiais que define o pertencimento dos indivíduos a classe. Tentarei esclarecer o termo “burguês honesto” usado por mim em um texto acadêmico. Quando ouviram o referido termo perguntaram: “— Existe mesmo burguês honesto?”.
Respondi sim! mas o conceito de honestidade a que me refiro não está relacionado ao sentido de moral ou a ética do indivíduo burguês em cumprimento de normas e regras legais e sociais. Não me refiro ao fato de ser honesto porque paga direitos trabalhistas aos seus empregados seguindo a legislação vigente, ou seus impostos ao Estado de forma correta, sem sonegar.
O sentido de honestidade a qual me refiro no texto, é aquela que alguns burgueses têm a respeito de sua posição de classe, o de explorador no modo de produção capitalista. É o patrão consciente que só obterá mais lucro ao passo que tenha mais trabalhadores produzindo para ele, ou seja, gerando riqueza através do trabalho.
Mesmo com o capitalismo consolidado e a classe trabalhadora alienada ideologicamente pelo capitalismo, é difícil encontrar burgueses honestos — no primeiro ou no segundo sentido —, principalmente no segundo. Com o liberalismo imperando, em geral, o burguês tem vergonha de admitir que só é rico porque explora o trabalhador.
O burguês honesto busca na religião ou na filantropia para tirar seu “carma de classe”, para pagar uma espécie de indulgência, com o dinheiro dos outros, claro. A maioria está no grupo de burgueses desonestos — ainda no segundo sentido —, defendem que por contratar um trabalhador estão sendo “caridosos”, pois para eles alguém que gera oportunidade de trabalho e de renda ao trabalhador faz um favor mais a que ele explora do que a eles mesmo que enriquece a custa da exploração alheia. Como são “bonzinhos” não acha?!
Abaixo o exemplo de como seria a fala de um burguês honesto:
Olá trabalhador, minha empresa está com capacidade ociosa de produção, preciso ocupa-lá contratando mais força de trabalho. Pagarei o salário que o mercado impõe, mais a você do que a mim e todos os seus direitos trabalhistas e previdenciários.
Na verdade, eu não gostaria de pagar tudo isso, mas devido às lutas travadas contra minha classe (burguesa) para conquistar essas concessões através de sindicatos, mobilizações e greves, me submeterei. Claro, estarei sempre buscando pela pressão econômica e política os poderes do Estado, com o apoio do exército de desempregados de sua classe (trabalhadora) — alienados ideologicamente — para virar esse jogo.
O salário e a jornada de trabalho como já falei é o que está nas leis vigentes, mas além de sua força para produzir seu salário e meu lucro dentro das normas legais, você precisará fazer algo além disso. Precisa “vestir a camisa” da empresa como se fosse sua, como se tudo produzido, teoricamente, fosse para seu usufruto.
A defesa da empresa precisa ser feito onde você estiver mesmo no tempo fora dela (em casa, na escola, na igreja, nas festas, no bar, etc.). Lembre-se, é nela que você tem a oportunidade do trabalho e é isso que dignifica o homem, não é?
Não leve a mal, preciso propagar a minha ideologia a todos os outros trabalhadores, tenho uns aqui já no final da vida produtiva e já começam a me questionar porque as promessas feitas por minha classe nunca são cumpridas. Eles não sabem da lógica desse sistema.