MARXISMO ACADEMICISTA

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 QUANDO O MARXISMO ACADEMICISTA NÃO É O MELHOR FAROL DA LUTA DE CLASSES
 
“Sem teoria revolucionária não há prática revolucionária”! Ao proferir essa frase, Lenin chamava a atenção dos revolucionários para a necessidade e importância deles se apropriarem do repertório marxista, de todos os ensinamentos da rica tradição operária na instrumentalização das lutas do presente e do futuro. Somente com esta síntese, a classe operária teria chances reais de fazer frente à ideologia burguesa e conquistar o poder político.
 
Isso significa uma constante mediação dialética entre a teoria e prática política. O partido revolucionário teria que buscar incessantemente a preparação intelectual de todos os seus militantes, nivelar suas capacidades de análise e formulação políticas para melhor desempenhar o papel que cabe aos integrantes da organização na luta pelo socialismo. Esse processo implica, necessariamente, num conhecimento substancial da ideologia do pensamento inimigo. Ou seja, num partido revolucionário, não há distinção entre o trabalho intelectual e trabalho manual, mas sim uma perfeita simbiose entre ambos.
 
Setores da intelectualidade de esquerda academicista, intelectuais oriundos das mais diversas tradições políticas – do reformismo aos que se intitulam revolucionários – parecem ter reformulado essa máxima leninista ou ressignificado seu conteúdo: converteram a teoria numa esfera particular de atuação humana restrita somente a alguns pouco escolhidos, pessoas aptas e, supostamente, preparadas para desenvolver tais atividades. É esperado e compreensível que setores intelectuais vinculados a outras ideologias se comportem dessa forma, afinal, a universidade, infelizmente, ainda é um espaço distante dos ambientes populares. No entanto, essa postura entre aqueles que se reivindicam marxistas, mesmo que de maneira formal, não deveria encontrar terreno fértil para se desenvolver.
 
Engolida, enfeitiçada pelo status academicista proporcionado pelo ambiente universitário, essa esquerda levanta suas armas quando se depara com qualquer iniciativa de formulação teórica emanada em espaço que não pertença à redoma de vidro que está inserida. No auge da arrogância Lattes, ela reivindica, raivosamente, o título de procuradora das teorias marxistas como se a ela fosse dado algum documento místico proveniente de alguma manifestação do além.
 
Enclausurada nos muros da universidade, pressionada pelo setor social de origem – geralmente pequena burguesia e de “classe média”- ou pelo ambiente reformista desse tipo de intelectualidade, essa esquerda perdeu o contato com a classe trabalhadora, com os operários, com os trabalhadores em geral, com os setores populares e com os moradores da periferia em particular. Muitos dessa esquerda, em momentos já algum tempo esquecidos, já estiveram numa porta de fábrica, numa comunidade de uma grande cidade, mas hoje se perdem no caminho caso resolvam sair de suas poltronas confortáveis e tentar reconstruir os laços perdidos.
 
Acham suficientes os livros e artigos escritos, sentem-se orgulhosos e esbravejam o fato de lerem muitos livros, citam trechos inteiros das mais consagradas obras de Marx, Lenin, Trotsky, Lukács, entre outros, mas diante de uma simples pergunta a empáfia desmorona como um castelo de areia: será que esses doutores, mestres do marxismo, sabem traduzir todo seu conhecimento em algum texto que qualquer operário, o trabalhador com alfabetização mais rudimentar possa ler? Que expresse a linguagem viva das quebradas e do gueto? Que expresse seus sentimentos e suas demandas? Que populares da periferia compreendam?
 
Essa esquerda intelectual, desprovida do mínimo contato com trabalhadores, petrificada nas suas salas e seus escritórios, advoga que o conhecimento científico por si só seria suficiente. Orgulha-se de seus textos e livros circularem somente no mundo acadêmico. Alguns, para defenderem suas posições, ou até mesmo como uma espécie de justificativa moral do seu conservadorismo, criticam ferrenhamente organizações que tentam unir teoria com prática cotidiana militante: essas organizações, de acordo com tais críticas, seriam um corpo putrefato de militantismo – esse termo é usado para caracterizar, geralmente, uma organização burocrática. Convenhamos que devemos sempre estar atentos para que não fiquemos submetidos àquela espécie de militância pela militância, algo que acaba se confundido não com uma ação viva, prazerosa, mas uma atividade robótica e estéril. No entanto, enquanto esses intelectuais, supostamente de esquerda, não conseguirem responder a algumas perguntas, eles não possuem moral suficiente para levantar tais considerações. São perguntas que não querem calar: quantos fazem alguma atividade de formação para a classe trabalhadora? Quantos têm algum trabalho nos bairros populares, na periferia, no movimento popular? Quantos acordam cinco da manha para panfletar na frente de uma fábrica, ouvir e dialogar com os trabalhadores?
 
Admitamos, para muitos dos intelectuais, a impossibilidade da execução desses “ trabalhos braçais” . No entanto essa questão não se esgota nessa restrição muito das vezes inerentes ao trabalho intelectual. Existem algumas formas de compensar esse distanciamento. A militância numa organização revolucionária seria a principal. Produzir ciência, traduzi-la para uma linguagem acessível, elevar a consciência política da classe, seriam essas atividades de todo intelectual que queira merecer o adjetivo de marxista e revolucionário. Vários intelectuais cumprem esse papel. A maior parte da esquerda academicista nem tanto. Alguns já tentaram, mas palavras como disciplina militante, centralismo democrático, soam aos seus sensíveis ouvidos como aberrações inadmissíveis. O ápice do absurdo para essa esquerda é ter como dirigentes políticos operários, trabalhadores manuais em que vários casos aprenderam a ler e escrever na militância sindical e partidária. Esse seria o pior dos crimes cometidos contra “ difíceis anos de estudos na graduação, mestrado, doutorado” da intelectualidade de esquerda academicista.
 
O objetivo dessa polêmica não é secundarizar o conhecimento acadêmico ou menosprezar esses próprios intelectuais, mas, de forma franca e sincera, chamá-los a descer do pedestal para se reconectar com a base social que fundamenta o socialismo. Afinal, não podemos prescindir de toda ajuda necessária no processo de conscientização daqueles que vivem do trabalho e dos que nem estão inseridos na esfera da produção. Se essa tarefa já é difícil para uma organização que busca estabelecer contatos com os trabalhadores, imaginemos para essa esquerda academicista enclausurada em alguma torre de marfim?
 
Reconstruir os laços perdidos, fazer trabalho de base – somente dessa forma a teoria retornará ao sentido leninista. Fazer da universidade um ponto de apoio das lutas sociais é diferente de querer transformá-la numa espécie de quartel general, fonte inquestionável de saber. Essa é a doença infantil desse tipo de esquerda.
 
Quando se trata de política revolucionária nunca a montanha vai até Maomé, mas sempre, em quaisquer circunstâncias, o caminho é inverso. A esquerda tem que se favelar, falar e escrever de forma que a mensagem do marxismo se torne audível e assimilada pelos trabalhadores, moradores das comunidades, negros e negras, homens e mulheres. Caso essa intelectualidade seja incapaz de fazer a autocritica e repensar suas práticas, estará, infelizmente, muito mais distante da revolução.

Sou apenas um trabalhador assalariado, casado com a companheira Irisnete Geleno, pai de quatro filhas(Ariany, Thamyres, Lailla e Rayara), morador da periferia (Boca da Mata-Imperatriz), militante partidário (PSTU) que assumiu algumas tarefas eleitorais como candidato (2006, 2008, 2010 e 2012) e que luta por uma sociedade COMUNISTA. Sempre fui e continuarei sendo a mesma pessoa de caráter que meus pais, minha escola, meus amigos ajudam a forjar. Um comunista escravo do modo de produção capitalista que não aceita a conciliação de classe defendida por muitos que se dizem de "esquerda", mas que na verdade são pequeno-burgueses que esperam sua chance no capitalismo.

Discussão1 comentário

  1. João Luiz Pereira Tavares

    E enquanto isso… No sério… Em âmbito nacional…

    O PRIMORDIAL:

    A educação (e a ARTE), como desejava Cristovam Buarque ainda no ínicio desse século com um projeto fabuloso, abortado pelo populista Lula em seu 1º governo, tinha que ter sido PRIORIDADE. Não foi. Eis aí o PeTê.

    Sim, é hora de se livrar dos trastes. Mas também dos TRASTES DE suposta ESQUERDA.

    E quanto as questões políticas atuais no Brasil, discutidas, só sei que o primordial é o seguinte:

    o LULOPETRALHISMO (muitas vezes “esquecido” de crítica dos blogs…):

    Lula é um perigo para a volta à normalidade, Lula é o atraso e o prejuízo. Retrógrado, nivelando tudo por baixo. Um homem mentiroso VIGARISTA, PeTralha e Picareta.

    Lula é incompetente, e foi incompetente quando apostou naquela mulher ignorante em ECONOMIA cujo nome é Dilma Rousseff.

    O PT tem orgulho de se dizer de esquerda (sentindo com essa identificação pessoal uma vaidade de se “acharem”). Mas PT é pseudo-esquerda, certamente. Hipocrisia publicitária e pura propaganda.

    O PT (sobretudo o Lulismo) já está fazendo Campanha (infiltrado nos blocos de Carnaval, disfarçado).

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