O bairro Três Poderes na cidade de Imperatriz até o ano de 2000 era visto como o bairro da elite de Imperatriz. Com localização privilegiada que dá acesso à BR-010 e Avenida Bernardo Sayão de frente com o 50º Batalhão de Infantarias e Selva (50 BIS) concentraram nesse bairro inúmeras mansões com áreas amplas, arborizadas e com pouquíssima circulação de veículos e pessoas, a não ser as que moravam ou prestam serviços aos residentes nessas mansões. O fluxo de pessoas e veículos poderia ser comparado a de um condomínio fechado, suas ruas bem conservadas, todas com pavimentação garantem o conforto e o glamour desse bairro puramente residencial e elitizado.
A atenção dada pelo poder público a esse bairro foi sempre destacada. Nele moravam, médicos, advogados, empresários, políticos, engenheiros, etc. Várias profissões cujo poder aquisitivo garantiu surgimento de construções cuja arquitetura é comparado a de outros bairros em cidades metropolitanas do Brasil como o dos Jardins e Morumbi em São Paulo, Tijuca e Recreio dos Bandeirantes no Rio de Janeiro, só pra exemplificar os que conheço, mas poderia ser comparado com outros. Essa atenção citada pode ser vista ainda hoje: o bairro é todo suprido com esgotamento sanitário (coisa rara na maior parte da cidade), tem uma praça central ampla com bancos e se mantém conservada sem contar que os vários serviços de limpeza quando se inicia um novo mandato de prefeito ele é sempre o primeiro a receber a ação.
Nos últimos vinte anos o bairro Três Poderes vem sofrendo uma alteração na sua “morfologia”. As mansões de muros altos, que ocupava até um quarteirão inteiro vêm dando espaço para o surgimento de construções verticais. Os entusiastas do “progresso” vêem essas alterações como a demonstração de que Imperatriz está se tornando uma “grande cidade”, dizem: “- já temos até uma fábrica da Suzano!”. Os mais nostálgicos podem não estar tão empolgados com o surgimento desses “arranha céus”, pois os ares de “condomínio fechado” dão lugar ao aumento do fluxo no trânsito que faz trocar o silencio ou o canto de pássaros pelo barulho de buzinas dos veículos no bairro. Sem contar com os defensores da manutenção do estilo exclusivista dessa área.
A maioria dessas construções verticais buscou, de um modo diferente, manter a percepção dos nostálgicos no que diz respeito à conservação da característica domiciliar e exclusivista. Vários prédios ali construídos hoje são residenciais, os anúncios dos empreendimentos se agarram ao principal argumento de ser uma área exclusiva e residencial da elite imperatrizense para a venda dos apartamentos. O fato das construções serem um pavimento (andar) por comprador, reforça o exclusivismo, que agora passou de uma mansão por quarteirão, para um pavimento por proprietário. O padrão das construções também tinha o viés de demonstrar que os ocupantes ainda se manteriam aos tempos áureos, os com maior poder aquisitivo da cidade.
Imperatriz teve um aumento significativo na expansão e ocupação de áreas afastadas do centro, principalmente rumo ao nordeste da cidade, que faz limite com a Cidade de João Lisboa. Os investimentos públicos e privados de acesso e infraestrutura passou a ser visto como um refúgio dos que perceberam a transformação estrutural Três Poderes.
Embora se perceba que o bairro ainda é, majoritariamente residencial, apesar da mudança de sua arquitetura vir sendo substituída por outros padrões de construções há outras transformações no “ecossistema urbano” do bairro. Os proprietários que se sentiram desprestigiados pela mudança do perfil: mansões por prédios verticais e buscaram áreas mais afastadas do centro cederam espaço para outros usos dessas residências.
Quem conhecia e reconhecia o bairro dos Três Poderes com um bairro de ocupantes provenientes de um estrato social economicamente elevado pode ter uma surpresa ao circular hoje por lá. Muitas dessas mansões residenciais dão lugar para empresas, principalmente do ramo da engenharias: civil e elétrica, mas também comércios e prestações de serviços. O poder público, seja ele estadual ou municipal, também dá sua parcela de reutilização das mansões instalando órgãos públicos.
Outra mudança que causa estranheza é o surgimento de ruas com alto fluxo de veículos que cortam o bairro, ou seja, o surgimento de “avenidas” incentivando um aumento da mobilidade urbana e uso do espaço. Agora há a necessidade de maior fluxo com a mudança da dinâmica das ocupações no local.
Apesar de todo impacto sentido no bairro, nele ainda resiste à simbologia de ser uma área cujo seus ocupantes pertencem a uma classe social diferenciada dos demais bairros da cidade. Mas agora com a participação de outras classes sociais: de transeuntes que usam as avenidas do bairro para ter acesso a outros pontos, órgãos, comércio e empresas, também por trabalhadores que prestam serviços nas empresas que ocuparam os espaços das residências para a se tornar em suas sedes.
Quem passar pelo bairro pela manhã cedo, verá vários trabalhadores concentrados sobre as calçadas em frente a essas mansões esperando o acesso a elas para registrar no cartão de ponto da empresa o início do expediente. Muito diferente há vinte anos, quando se passava pelo bairro, raramente se via alguma circulação de pessoas, só muros altos e portões fechados. No máximo, ao fim da tarde, senhoras a caminhar pelos quarteirões com seus pets.
Podemos dizer que as mudanças econômicas têm fomentado um processo de reestruturação urbana mais acelerada em toda cidade e, ao olharmos para o bairro dos Três Poderes se percebe que até mesmo no seio da elite econômica que representava esse bairro não pode manter-se isolado desse processo. Também os bairros periféricos tiveram seus níveis de impacto, mas nesses casos as mudanças se dão em dinâmicas diferentes.