Discurso dos FORMANDOS UFMA 2021.1

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Discurso do orador dos estudantes da UFMA dos campi de Bacabal e Imperatriz na solenidade de colação de grau, realizada no dia 22 de novembro de 2021.

Aos professores e membros do administrativo da UFMA, colegas de curso, formandos e familiares, boa noite!

Estou aqui para cumprir a tarefa em nome dos formandos UFMA 2021.1 de BACABAL e IMPERATRIZ. Realizar uma fala dirigida a todos e todas que fizeram parte desta caminhada acadêmica, colaborando para o fim exitoso de mais uma etapa das nossas vidas.

Minha fala busca refletir alguns aspectos da trajetória acadêmica e de vida de todos nós estudantes concludentes desta cerimônia de colação de grau.

Hoje celebramos uma etapa importante das nossas vidas, principalmente dos que fazem parte da “classe-que-vive-do-trabalho”: filhos e filhas do gari, da faxineira, do pedreiro, da dona de casa, do motorista, do vendedor, do vigilante, do pequeno comerciante, do lavrador, da quebradeira de coco, entre outros. Todos esses buscam a sua sobrevivência e de seus familiares através da venda da força de trabalho, que no modo de produção capitalista vigente, nos explora para garantir o acúmulo de riqueza a uma pequena parcela privilegiada da sociedade.

Certamente, muitos de nós somos oriundos de famílias de trabalhadores do campo e da cidade, que não tiveram chance de estudar, mas sabedores do valor da educação, nos oportunizaram adentrar ao espaço da escola e de ingressar em uma universidade.

Da Ditadura Militar a governos progressistas, a educação pública manteve-se sob ataque com cortes de recursos, ações excludentes e de retrocessos. Mesmo com todas as limitações, tivemos nossa formação desde a Educação Básica, em instituição pública.

O ensino recebido nos anos escolares não necessariamente nos garantiu o curso desejado ou o desempenho esperado, mas por mérito nosso, e dos nossos professores e gestores comprometidos com a formação dos seus estudantes, hoje podemos celebrar esta grande conquista: concluir um curso de nível superior em uma universidade pública.

As políticas do REUNI, SISU e Lei de Cotas garantiram a expansão e o ingresso de parte da nossa classe ao ensino superior nos últimos 10 anos, porém enquanto políticas reformistas, não passaram de arremedos para solução dos problemas decorrentes do baixo nível de escolaridade da população, pois não assegura a permanência dos estudantes oriundos da rede pública.

Os programas de Assistência Estudantil, PIBID e Residência Pedagógica não suprem a necessidade do contingente de estudantes da UFMA, isso sem falar na atual situação de ameaça de extinção desses programas por falta de recursos, levando a recorrentes atrasos e suspensões de pagamento das bolsas. Porém, não somente os programas de bolsas estão ameaçados, mas a existência da própria universidade, por falta de recursos para manutenção predial, de laboratório, de biblioteca e dos demais serviços.

Razões que durante nossa permanência na instituição nos levaram a participar de movimentos de paralisação de estudantes e greves de professores e técnicos. O que nos leva a perguntar: a falta de investimento e os cortes sistemáticos no orçamento da educação não fazem parte de um projeto de extinção do serviço público?

Além dos percalços causados pela precarização das IES públicas, nossas trajetórias foram de desafios diários para lutarmos contra todo esse estado de coisas e ainda dar conta das atividades acadêmicas propostas por nossos mestres.

Se cada um de nós fizer o exercício de lembrar do primeiro dia de aula, daremos conta de que muitos dos colegas ali presentes não estão aqui entre nós, por alguma razão, ficaram pelo caminho nessa trajetória. Alguns podem dizer que foi “escolha própria”! Outros, por problemas de saúde ou familiar. Seguramente esses nossos colegas, assim como tantos outros estudantes deste nosso país, não seguiram seus cursos devido aos desafios econômicos e financeiros. Em vista da sobrevivência, muitos optam por evadir-se do curso ou do ensino superior em busca de emprego para o atendimento das necessidades materiais, postergando ou abandonando de vez o sonho de uma formação superior. Me coloco como um desses estudantes que prolongou seus planos acadêmicos por questões econômicas.

Ingressei no ensino superior 15 anos depois da conclusão do ensino médio, após entrar no mercado de trabalho como técnico em informática e de constituir família, o que justifica, hoje, aos 43 anos, estar concluindo meu primeiro curso superior.

Não podemos nos esquecer dos nossos professores, que em todos os momentos estavam ali para nos auxiliar no nosso processo de aprendizagem, tentando medir, através das avaliações, nosso progresso. Sei que a palavra “avaliação” não soa bem aos jovens de hoje, com acesso à “informação” na palma das mãos, mas informação não significa conhecimento. Digo como formando em licenciatura, que avaliar é mais difícil para o professor do que a nota recebida pelo estudante. Então, não esqueçam nenhum deles, pois eles não mediram esforços para ajudar no seu desenvolvimento intelectual e acadêmico, o que levou todos nós há esse dia.

Em nome de todos os estudantes, agradeço os docentes da UFMA, em especial aos professores da coordenação de LCH, na pessoa do paraninfo e patrono de nossa turma de formandos. Ao querido professor Dr. Edson Ferreira da Costa, meu muito obrigado por me ajudar e ajudar a todos que passaram e passarão por vocês. Não cito todos em razão do tempo, falar nomes e sobrenomes necessitaria de pelo menos mais 10 minutos.

Agradeço também aos servidores administrativos da UFMA em nome da Alda Dantas, secretária do nosso curso, que também é homenageada com o nome na turma de formandos de hoje. Também não podemos esquecer dos vigilantes e das zeladoras — as tias do café — que sem o seu trabalho, nem a UFMA funcionaria nem teríamos um ambiente apropriado e seguro.

Tenho que me desculpar aos colegas que gostariam de estar ouvindo uma mensagem empolgante e motivacional, comum a muitas cerimônias como esta. Creio que o momento atual pede uma fala centrada na denúncia dos processos educacionais excludentes que alimentam discursos e ações de ataque às universidades públicas e à própria educação brasileira.

Com o dobro da idade de muitos formandos de hoje, e por ter experiências de vida ao longo desse tempo, me sinto na obrigação de dizer-lhes: o capitalismo é um sistema excludente que coloca os indivíduos explorados em constante competição entre si, e o mercado de trabalho é bem isso. É a partir dessa competição que a burguesia se fortalece e mantêm-se explorando a classe-que-vive-do-trabalho.

Muitos de nós se matricularam no curso que a nota do ENEM lhe possibilitava concorrer ou nas opções disponíveis, outros ultrapassaram o tempo de integralização do curso, pois, tiveram que conciliar estudo e trabalho. Nenhum desses motivos tira o mérito de terem conquistado uma profissão propiciada pela UFMA, com a qualidade reconhecida pelos profissionais formados por ela.

Gostaria de continuar explicitando melhor as contradições que continuaremos enfrentando, agora como graduados e no exercício de nossas habilitações. Mas vou encerrando por aqui, confiante de que algumas dessas palavras ecoem na memória de todos os presentes e que nos levem às discussões futuras de como construirmos outra sociedade, superando o modo de produção capitalista.

Mesmo egressos da instituição, precisaremos nos manter firmes na defesa de uma UFMA, universalizada, pública, democrática e de qualidade!

O patrono da educação brasileira, Paulo Freire, já dizia: “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Para concluir, encerro reconhecendo que sou um “pessimista teórico, mas um otimista prático”, pois tenho a convicção de que SÓ A LUTA MUDA A VIDA!

A solenidade encontra-se no portal oficial da UFMA, no link: https://youtu.be/x8fystem6UE

Sou apenas um trabalhador assalariado, casado com a companheira Irisnete Geleno, pai de quatro filhas(Ariany, Thamyres, Lailla e Rayara), morador da periferia (Boca da Mata-Imperatriz), militante partidário (PSTU) que assumiu algumas tarefas eleitorais como candidato (2006, 2008, 2010 e 2012) e que luta por uma sociedade COMUNISTA. Sempre fui e continuarei sendo a mesma pessoa de caráter que meus pais, minha escola, meus amigos ajudam a forjar. Um comunista escravo do modo de produção capitalista que não aceita a conciliação de classe defendida por muitos que se dizem de "esquerda", mas que na verdade são pequeno-burgueses que esperam sua chance no capitalismo.

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