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O resultado da crise sistêmica que acomete os países mais ricos do globo, que há bem pouco tempo estava sobre os países das Américas, resulta diretamente num ataque à classe trabalhadora com demissões, retirada de direitos. Diante desse quadro, a classe trabalhadora tende a se auto-organizar, mesmo que suas lideranças sindicais e/ou parlamentares tentem buscar, pela via reformista, que os trabalhadores aceitem pagar o preço para salvar o sistema que os explora. Esses ataques se acirram da necessidade de expansão do capital — geográfico e mão-de-obra — para manter seus níveis de reprodução.
Com o fim da manutenção da condição de bem-estar social sustentada na pilhagem de outras nações através do colonialismo, a única saída da classe operária na Europa foi a insurreição contra suas lideranças e governos. No Oriente Médio seu povo cansado de ver sua riqueza — petróleo — sustentando governos ditadores apoiados por países imperialistas também inicia um processo de insurreição, demonstrando a face revolucionária das massas em movimento.
O cenário de superficial estabilidade econômica o qual o Brasil consegue manter com a manutenção de uma política financeira que garante a lucratividade aos agiotas internacionais através de juros altos e da exportação de commodities dá sinais dessa dependência. Em 2010, as vendas de cinco commodities, o minério de ferro, petróleo bruto, soja (grão, farelo e óleo), açúcar (bruto e refinado) e o complexo carne, responderam por 43,4% do valor total exportado pelo Brasil, uma fatia bastante superior aos 27% de 2004. O maior destaque é o minério de ferro, cuja participação subiu de pouco menos de 5% para mais de 14%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
O papel de um partido revolucionário é o de manter um canal de diálogo aberto com a classe trabalhadora no mundo. A questão econômica e material, objeto de estudo do marxismo, é central para conseguirmos unificar o operariado em torno de um programa para a luta socialista, que a cada dia se torna mais necessária, também, uma difícil tarefa para uma pequena vanguarda de revolucionários.
No Maranhão, o processo da expansão do capital tem se destacado, fazendo com que o partido desperte para a necessidade em traçar táticas para nossa inserção em meio à classe trabalhadora maranhense, explorada pelos grandes empreendimentos que chegam ao nosso Estado. Para entendermos o que vem acontecendo, precisamos compreender como se configura o Estado: com uma extensão territorial de 331.983 km², com pouco mais de 6,5 milhões de habitantes, distribuídos em 217 municípios, estando grande parte da população em municípios que não chegam a 30 mil habitantes, o Estado tem como principais cidades: São Luís (Capital), Imperatriz, Caxias, Timon, Balsas, Açailândia e Santa Inês, sendo estas as mais populosas.
Nosso estado detém privilégios naturais: terras férteis, clima bem definido e água em abundância. Apesar disso, temos pouca produção agrícola, que ainda se vale de técnicas rudimentares. Outro aspecto é a subvalorização na exploração da principal cobertura vegetal nativa, o babaçu. Esses aspectos dão ao povo maranhense índices de desenvolvimento econômico que justificam a miséria.
Num passado não muito distante (1966), foi propagandeado pelo recém-eleito governador do Estado, José Sarney, um discurso desenvolvimentista: “Temos os nossos olhos nesta tarde no começo do governo voltado para aquela barragem de cimento que atravanca o Parnaíba e que nos acena como uma mensagem de progresso e que se chama Boa Esperança, o Parnaíba domado para que o Piauí e o Maranhão possam transformar aquele castelo no deserto […]”. Tem sido incutido na cabeça dos maranhenses que o prometido desenvolvimento do Maranhão começa com os grandes projetos capitalistas, como exemplos e hoje realidade: Hidroelétrica de Boa Esperança, Alumínio do Maranhão (ALUMAR) e Porto de Itaqui. Mesmo com a chegada à presidência da República o discurso profético do progresso só se concretizou para os grandes investidores internacionais, ficando distante de qualquer benefício à classe trabalhadora, maioria nesse Estado.
Os governos subsequentes adotaram a mesma tática para conseguirem êxito em processos eleitorais e na sua aliança com os grandes capitalistas, que inicialmente viram uma grande oportunidade para a reprodução do capital através da construção da linha de ferro Carajás. Isso, para o escoamento do minério de ferro extraído da Serra dos Carajás-PA e transportado até o porto da Ponta da Madeira em São Luís. Exemplifico ainda, a construção do polo siderúrgico em Açailândia e o projeto CELMAR em Cidelândia, para produção de carvão vegetal através das monoculturas de eucalipto, usados no abastecimento dos fornos para processamento do minério para geração do ferro gusa.
Passado algum período de estagnação de investimentos no estado, nos últimos 8 anos vemos novamente o aumento dos investimentos, dessa vez, o tão conhecido discurso desenvolvimentista é propagado por dirigentes do Estado e gestores municipais, que prometem a redenção dos males do povo maranhense através da inserção da mão-de-obra, via de regra, muito abaixo da qualidade para os padrões dos investimentos, abrindo oportunidade de rebaixamento de salários e maior lucratividade.
O retorno nos investimentos iniciou aos moldes de Getúlio Vargas (1930-1954), com uma ação do Governo Federal através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que se mantém com o PAC II, mas é com os investimentos privados, principalmente com capital de ações em bolsas de valores e, também com injeção de dinheiro público através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) que os montantes se destacam:
Os dados expostos acima nos dão uma visão bem ampla de como o capitalismo, através dos discursos progressistas, tenta a todo custo afirmar que esse modo de produção pode garantir pleno emprego, e com isso, dar qualidade de vida aos que estão, na prática, sendo explorados por essas empresas. Por outro lado, neste momento são esses empreendimentos que estão pondo no processo produtivo muitos maranhenses, que faziam outrora parte de uma grande força de trabalho de reserva, os quais não estavam sequer ligados a movimentos sociais por terra.
Alguns desses empreendimentos em curso estão absorvendo a força de trabalho de reserva de cidades com algum nível de desenvolvimento industrial (São Luís, Imperatriz e Açailândia). No caso dos municípios maranhenses (Santo Antônio dos Lopes, Capinzal do Norte, Urbano Santos, Presidente Dutra outros) onde a realidade econômica era baseada no campo, no pequeno comércio e nos programas de transferência de renda governamental, temos aí uma transformação brusca da forma de vida dessas comunidades e dos agora operários.
Diante disso, ainda nos deparamos com vários fatores relacionados aos baixos índices de educação, às dificuldades de sobrevivência dessas populações e, em momentos do processo eleitoral burguês, o tempo de TV disponibilizado é mínimo, o que nos impede de dialogar com a classe trabalhadora, de modo a conscientizá-los. Mesmo com uma renda (salário) nunca imaginada para muitos, contribuem para a reprodução do capital concentrado nas mãos da burguesia e acabam sendo mais explorados do que outros trabalhadores.
Como militantes da esquerda, não podemos sequer esboçar qualquer tipo de recuo na tarefa de demonstrar os males que o capitalismo traz à natureza e aos homens e mulheres explorados sem piedade. Precisamos sim, acirrar nossa atuação, tornando-a mais efetiva por parte de todas as nossas figuras públicas na tarefa de alcançar massivamente a consciência das massas, algo que já fazemos nas mobilizações e com nosso jornal (Opinião Socialista), mas também devemos construir novos espaços de debate que se abrem via Internet: sites, blogs, TV Web, Rádio Web; e o que é mais importante, debater temas do cotidiano das cidades e do estado, temas que são mais palpáveis e servem como exemplos para nosso objetivo: derrubada do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista, sempre mostrando a relação internacional que essas economias têm.