Nesse fim de semana 05 e 06 de dezembro de 2015 em dois programas da TV Globo – reconhecidamente conservadora e apoiadora da elite desde o golpe militar de 64 – tiveram em suas pautas dois temas exclusivamente debatidos no seio da classe trabalhadora, estaria então, a TV Globo se rendido à classe trabalhadora?
Não foi apenas eu que notei uma certa mudança de postura de telejornais e de programas de entretenimento do canal da família Marinho. Todos sabem os problemas financeiros que as organizações Globo têm enfrentado e a recorrente perda de IBOPE durante a sua programação, seja nos horários de novelas, telejornais e programas de entretenimento. Protestos em links da emissora são constantes, o último foi no programa “ENCONTRO” com Fátima Bernardes onde cobria um protesto de estudantes em são Paulo contra a Reorganização da rede de Ensino, cujo link foi interrompido quando os alunos gritavam: – o povo não é bobo, abaixo a rede globo!
Esses fatores explicaria o oportunismo da emissora em incluir na sua grade de programação temas típicos da classe trabalhadora como o acesso à cultura e a cultura da periferia como o Hip-Hop e o Rap com letras ainda monitoradas pela produção mas que os militantes sabem driblar o monitoramento e levar um pouco de conscientização à massa, que ainda é telespectador dessa emissora.
O exemplo disso foi no dia 05/12 durante o programa “Caldeirão do Huck” que levou alguns MC’s como Edi Rock e Karol Comká que cantavam enquanto Bee Boys se apresentavam no centro do palco. O controle sobre as letras cantadas pelos MC’s seria de acordo com o que foi definido pelos produtores, mas algo foi um pouco mais além do que o esperado. Durante o trecho da música de Edi Rock, a letra falava:
[…]Revolução se aproxima se prepare
Pegue suas armas marche apache é nunca pare
Encare a guerra de frente mesmo sendo ruim
Somos soldados e sobreviventes sempre até o fim[…]
(That’s My Way, Edi Rock)
No mesmo instante as câmeras captaram na platéia pessoas – muito provavelmente moradores da periferia que debatem sobre suas condições sociais e o processo de divisão de classe dos quais são inseridos – com punhos cerrados para o alto. Para alguns o gesto é desconhecido, mais para uma classe consciente o gesto tem uma importância crucial na luta anticapitalista.
A abertura forçada da Globo foi mais além, no domingo (06/12), o programa “Esquenta!” com Regina Casé. O tema era feminismo e as mulheres e militantes eram bastante preparadas para fazer o debate, novamente o controle foi evidente, pois não vimos em nenhuma das falas o questionamento sobre o que mantém a divisão entre homens e mulheres em oposição, que é a estrutura social capitalista que mantém a sociedade dividida em classe.
Mesmo com esses limites, a oportunidade de fazer o debate qualificado em rede nacional é muito proveitosa e, se a rede Globo de forma oportunista quer abrir espaço para esse tipo de debate, a classe trabalhadora precisa aproveitar. A contradição aqui é da rede Globo ela que está mudando sua postura de conservadora – até aqui sempre defensora dos interesses da elite rica – para uma postura que inclua a discussão dos conflitos de classe mais abrangentes.
Quem não deve ter gostado muito de ver a classe trabalhadora passando sua mensagem contra a exclusão de classe na telinha deve ter sido a elite exploradora que financia a TV para propagar sua hegemonia, alienando a grande massa. Bom, mais esse problema não é da classe trabalhadora, só precisamos estar atentos para não sermos enganados em achar que essa movimentação não é clássica dos monopólios das telecomunicações, oportunista até quando?