Com a instalação da crise econômica pela qual o Brasil vem sendo afetado desde 2009, muito bem escondida com as várias medidas de financiamento estatal em obras públicas como os PAC’s (Programa de Aceleração do Crescimento) – realizadas por consórcios privados – para manter os esquemas de superfaturamento e propinas que financiam os processos eleitorais e a compra de deputados e senadores, ou seja, a governabilidade através da compra de apoio para sustentar o partido que assume o poder.
Essa estrutura de governabilidade através da compra de parlamentares e de esquemas de corrupção em obras não foi inventada pelo PT com o primeiro mandato de LULA/2003, mas ninguém pode negar, nem mesmo os militantes do partido que “cortaram na própria carne” que o PT e os governos de LULA e DILMA mantiveram os esquemas funcionando até hoje. É a velha máxima conservadora do “rouba, mas faz”: o país ainda ser um dos maiores concentradores da riqueza numa pequena parcela da sociedade, continuam o programa bolsa família; apesar da ampliação do acesso ao ensino superior com o REUNI, mantém o baixo investimento na educação pública e parte desses recursos vai para garantir o ensino superior na rede privada; apesar do período de geração de empregos com os investimentos do estado, dá concessão de impostos aos empresários em troca de empregos sem bases sólidas etc.
A política que o PT assumiu sem nenhuma contestação, mantém a disparidade entre o dinheiro para o investimento no país e o que é dado aos investidores e banqueiros nacionais e internacionais com o pagamento de juros da dívida que o Brasil assumiu como sua. Hoje quase a metade do orçamento da União, 46% (segundo a auditoria cidadã), está comprometido com os pagamentos de juros e principal da dívida pública, ou seja, o dinheiro do orçamento vai para as contas dos ricos do Brasil e de outros países enquanto o governo aplica ajustes fiscais que tiram direitos dos trabalhadores e faz com que trabalhemos até morrer e não consigamos desfrutar a aposentadoria.
Conhecedores desse cenário, muitos que consideram o PT como progressista, há também alguns mais, digamos, otimistas, o considera como um governo de “esquerda”, um conceito bastante mudado para que mantenha a grande parcela da população achando que é um governo que os representa. Já na posse de Lula em 2003, e até mesmo no processo de mudança de seus compromissos para alcançar o poder, o PT já fazia alianças com setores da direita, mais moderada no inicio, mas o que vemos hoje é uma política neoliberal, já mais enraizada no próprio partido e na sua estrutura de governo. Ao ponto de manter conservadores de extrema-direita em cargos de ministros e na direção de instituições das quais o governo depende. Esses mesmos defensores do “governo de esquerda” têm apoio de figuras que são digeridas facilmente pelo governo como Collor de Melo, Renan Calheiros, José Sarney, Kátia Abreu e outros incontáveis nomes.
O fato recente da inclusão do nome de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na lista da operação Lava-Jato e o anuncio de rompimento dele com o governo, fez com que alguns militantes, esperançosos que o partido se liberte da dependência do PMDB e volte às raízes onde defendia a parcela da população mais pobre. O sentimento de esperança de que o governo deixe de agradar o PMDB em cargos e na tarefa de principal sustentador de seu governo vai ficar só na esperança mesmo. O PT ainda não se deu conta que suas principais figuras públicas estão queimadas com os vários fatos de corrupção durante esses doze anos no poder. O PT além de ter mantido ao seu lado os esquemas de corrupção da direita, também manteve visível, como colaboradores das ações governamentais, seus maiores adversários – os legítimos representantes da elite rica – que não terá nenhum obstáculo para cobrar a fatura, já que o PT afoga suas principais figuras públicas na lama da corrupção.
Para encerrar, é preciso dizer que as crises entre os aliados e o PT já ocorreram antes, e a receita a ser aplicada será sempre a de dar mais espaços – cargos, ministérios, participação na tomada de decisões – acalmando os nervos. Enquanto isso, o PMDB e outros partidos de extrema direita consolidam suas alianças nos setores que dominam o país (bancada religiosa, do latifúndio, da bala, das empreiteiras, etc.), que por enquanto aceita negociar com o PT acordos pontuais, mas até quando? O que vemos é o governo favorecendo ainda mais a direita que usa a “história do partido” para enfraquecer àqueles que poderiam ser uma força aliada, os trabalhadores.
Na mesma linha de raciocínio do texto acima encontrei esse vídeo do Zé Maria: